Demanda de famílias por crédito recua

17.03.2014

Os bancos públicos, que sustentaram o mercado de crédito praticamente sozinhos desde 2012, enfrentam neste começo de ano uma inesperada queda de demanda por empréstimos das famílias, que levanta dúvidas sobre o desempenho de um dos principais pilares de sustentação do consumo num ano em que os prognósticos para a atividade econômica já não são bons.
Os financiamentos às empresas evoluem de forma um pouco mais favorável, apesar de, na visão de fontes oficiais ouvidas pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, estar havendo um inquietante atraso na contratação de operações de crédito pelos consórcios que venceram leilões de concessões em fins do ano passado.
As causas da queda da procura por empréstimos entre pessoas físicas ainda é uma incógnita e, para alguns, pode ser um sinal do fim do superciclo de crédito ao consumo criado pela ascensão de milhões de brasileiros à classe média.
Segundo fontes do governo, começam a surgir alguns questionamentos sobre se, diante dos sinais de debilidade do mercado de crédito tanto público quanto privado, não seria o caso de o Banco Central afrouxar, de forma pontual, algumas das medidas macroprudenciais adotadas em 2010, embora reconheçam de antemão que é pouco provável que a autoridade monetária trilhe esse caminho em meio a um ciclo de aperto na taxa de juros.
Em janeiro o crédito livre, com taxas pactuadas pelo mercado, registrou avanço de apenas 0,6%, na comparação com dezembro. O baixo crescimento no primeiro mês do ano não chegou a preocupar os banqueiros oficiais, já que esse é um mês tradicionalmente fraco. A morna demanda, no entanto, persistiu em fevereiro e nas primeiras semanas de março. Incluiu até modalidades de prazo mais longo que vinham se mantendo com certo vigor, como os financiamentos imobiliários.
Em parte, a desaceleração da demanda por empréstimos das famílias pode ser um reflexo do aperto monetário implementado pelo Banco Central. De abril de 2013 para cá, a taxa Selic subiu de 7,25% ao ano para 10,75% ao ano. A autoridade monetária já contava com uma nova desaceleração desse mercado neste ano, que passaria do avanço de 14,7% apurado em 2013 para 13% neste ano. Neste cenário, os bancos oficiais continuariam a puxar a oferta de financiamentos ao consumo, com um aumento de 17% neste ano.
A baixa contratação de empréstimos nos bancos públicos levanta a questão sobre se há algum fator estrutural colaborando com o esfriamento do mercado, ligado a uma eventual “ressaca” da nova classe média que já aproveitou a onda anterior para comprar os bens desejados. “Depois que a nova classe média já comprou uma nova geladeira e a tevê de tela plana, tende a demandar menos crédito”, comenta uma fonte oficial.
Os bancos públicos ainda observam uma demanda relativamente robusta por crédito pelas empresas. Mas, neste momento, esperavam que as companhias que venceram os leilões de concessões de rodovias e aeroportos já estivessem contratando financiamentos para iniciar as obras de melhoria da infraestrutura.
Nas semanas anteriores à realização dos leilões de concessão, houve grande ansiedade do setor privado para assegurar que haveria oferta de crédito suficiente. Isso fez os bancos públicos acreditarem que os consórcios estavam prontos para fechar os contratos de financiamento. Em parte, algumas empresas não estão contratando empréstimos porque têm caixa para as necessidades mais imediatas, mas esse pode ser um sinal, também, de que perderam algum sentido de urgência.
O andamento dos projetos de infraestrutura preocupa porque, na opinião de um executivo de um banco federal, esse é um dos motores que vão movimentar cadeias produtivas que chegam até o segmento de pequenas e médias empresas. Ou seja, são vitais como fatores de sustentação do crédito a pessoas jurídicas como um todo.
Diante desse quadro, começam a surgir questionamentos sobre se não seria a hora de repensar algumas das medidas macroprudencias adotadas em fins de 2010 para esfriar um mercado que se mostrava excessivamente aquecido, com riscos de formação de bolhas.
Mesmo quem sugere esse tipo de alívio, porém, entende o argumento contrário: o Banco Central procura, nesse momento, conter a demanda agregada para recolocar a inflação na trajetória das metas.
O peso das razões prudenciais para manter as restrições, sobretudo se os ajustes forem feitos de forma bem pontual, é relativo. Em algumas operações de prazo mais longo, a ponderação de risco de operações de crédito para fins de apuração de capital requerido chega a 300%. Nas operações de crédito consignado com prazos até cinco anos, a ponderação é de 75% ou 100%. Se o prazo é maior do que cinco anos, passa para 300%.
No caso do crédito pessoal, a circular do BC colocou três faixas conforme o prazo, variando de 75% a 300%. Os financiamentos de veículos garantidos também caíram em uma regra semelhante, onde operações com até cinco anos recebem fator de ponderação de risco de 75% ou 100%. Acima desse prazo, sobe para 150%.

 
Fonte: Valor Econômico e Portal Contábil SC

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