Fusão de dois bancos de cooperativas pode criar instituição maior que o Credit Suisse e o JP Morgan no País – Matéria da Isto É Dinheiro

09.02.2014

Apenas dez quilômetros separam a lavoura de Vitório Scolar de seu banco, na pequena Getúlio Vargas, na região norte do Rio Grande do Sul. É na unidade de atendimento do Banco Cooperativo Sicredi que o agricultor de 61 anos consegue financiamento para a produção dos 40 hectares plantados com soja e milho. No ano passado, ele entrou em um consórcio para adquirir um imóvel no município de 16 mil habitantes onde mora. A mais de 900 quilômetros dali, no município paulista de Jaú, vive o comerciante José Roberto Pena, que investe em fundos e paga as contas de sua loja pelo Bancoob. Em um futuro próximo, Scolar e Pena poderão ter algo em comum: o mesmo banco.
É que o Bancoob, que integra o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil, e o Sicredi têm conversado sobre a fusão de suas operações, que criaria a 12ª maior instituição financeira do País, com R$ 43,5 bilhões em ativos em setembro. Com isso, ele ficaria à frente das filiais brasileiras de gigantes como Credit Suisse e JP Morgan. “O que falta é sentarmos para analisar as sinergias, mas sabemos que o primeiro passo é a ‘mesa de cavalheiros’ e isso já foi feito”, afirma Marco Aurélio Almada, presidente do Bancoob. “A fusão está no radar, volta e meia nossos acionistas conversam com os sócios do Sicredi.”
Individualmente, as duas instituições apresentaram o maior crescimento em ativos do sistema financeiro nacional nos últimos cinco anos. O Bancoob teve um salto de 255%, enquanto o Sicredi avançou 209%. Mal comparando, o gigante Bradesco cresceu 113%. As duas instituições querem repetir a dose em 2014. “Esperamos um crescimento de 20% a 25% nos ativos totais”, afirma Almada, do Bancoob. No ano passado, segundo prévia dos resultados, o banco de Brasília lucrou R$ 46,8 milhões e os ativos atingiram R$ 18,1 bilhões, 22% a mais que em 2012. A carteira de crédito cresceu 32%, para R$ 6,68 bilhões, e os depósitos avançaram 18,7%, para R$ 15,4 bilhões.
No gaúcho Sicredi, os resultados preliminares indicam que os ativos totais somaram R$ 38,41 bilhões, avanço de 22,7% ante 2012. O patrimônio líquido chegou a R$ 5,3 bilhões, mais do que o dobro do registrado em 2009, e as operações de crédito alcançaram R$ 21,9 bilhões, 160% a mais do que cinco anos antes. “Representamos 49% dos ativos do cooperativismo brasileiro”, diz Ademar Schardong, presidente do Sicredi, referindo-se à rede integrada. Rede que, por sinal, não para de crescer. Em janeiro, a cooperativa Unicred do Rio de Janeiro, que reúne 12,3 mil médicos e enfermeiros, se uniu ao Sicredi.
“Não estava prevista a expansão para o Rio no curto prazo, mas havia sinergia”, diz Schardong. O próximo passo será desenvolver um plano estratégico para os próximos cinco anos. “Vamos fazer a migração de todo o sistema de atendimento e a expectativa é de que, em três meses, os cooperados do Rio possam ter acesso aos nossos produtos.” Com esse casamento, o Sicredi passa a atuar em 11 Estados. Em 2014, o foco das duas instituições será investir em cartão de crédito e financiamento imobiliário. O Bancoob saiu na frente. Em janeiro, anunciou a parceria com a empresa de tecnologia First Data, para atuar no mercado brasileiro de adquirência.
“Vamos gerir todos os fluxos – seja de cooperados ou não – e o investimento em tecnologia será feito pela First Data”, explica Almada. “Esperamos que, após os primeiros cinco anos, de 10% a 15% da nossa receita venha dessa operação”, diz ele, acrescentando que a nova marca da adquirente deve ser lançada ainda no primeiro semestre. A meta é capturar 5% das transações em cinco anos. Para Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, o crescimento acelerado do Bancoob e do banco Sicredi se deve à proximidade aos cooperados, principalmente aos que participam de cooperativas de agronegócio.
“Em geral, instituições privadas dão mais atenção aos grandes produtores e, além disso, o trabalho do Banco Central na regulamentação e fiscalização desses bancos foi decisivo.” Não é para menos. Na década de 1990, o Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC) foi liquidado por má gestão. Para completar, foi criado, em novembro do ano passado, o Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), que protege os clientes em caso de intervenção ou liquidação extrajudicial, nos mesmos moldes do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), dos bancos comerciais.
A contribuição mensal das instituições associadas ao FGCoop será de 0,0125% dos saldos das obrigações garantidas. Para Almada, a explicação para o crescimento do Bancoob vai além. Segundo ele, nos bancos de cooperativa, a remuneração dos executivos é conservadora e o que se busca é o desenvolvimento local e não lucro por lucro. “Com isso, não investimos em títulos podres nem nos globalizamos, daí que crescemos quando os bancos encolhem devido a crises financeiras”, diz. “As nossas portas continuam abertas e, como há muitos lugares no País onde a economia continua pujante, tem muita gente querendo entrar.”

 

Fonte: Por Natália FLACH – Isto É Dinheiro e Portal do Cooperativismo de Crédito

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